Ponto de vista, Cidade Nova Brazil | June 2021
Luís Henrique Marques (luismarques@cidadenova.org.br)
Artigo original:
Cidade Nova retoma o tema da cogovernança, conceito ainda a ser mais bem compreendido aqui no Brasil, mas que, em outros países, é objeto de estudo de muitos pesquisadores, especialmente da área das ciências políticas, já há algum tempo. Essa é a temática central de um congresso mundial, a ser promovido pelo Movimento dos Focolares em outubro, conforme conta a matéria de capa desta edição.
Embora o termo em si ainda possa causar estranheza para alguns, o conceito de cogovernança se refere a valores que, creio, são bastante conhecidos. Do meu ponto de vista, falar em cogovernança é falar de um governo (de um país, Estado, cidade ou mesmo de uma organização) participativo, no qual todos os atores envolvidos têm algo a dizer e fazer. Esses se tornam protagonistas porque movidos pela convicção de que a fraternidade universal os une, os faz iguais em dignidade. Por atores, refiro-me não só aos líderes, mas a todas as pessoas envolvidas no âmbito do governo, o que em última instância implica todos os cidadãos ou membros de uma organização.
Como cidadãos, todos sabemos do nosso compromisso em fazer a própria parte para que a gestão da coisa pública seja feita de forma adequada e justa. Muitos de nós podemos, inclusive, nos sentir com a consciência tranquila a esse respeito por julgarmos estarmos em dia com os nossos compromissos com a sociedade. Pode ser. Mas se olharmos bem ao nosso redor, seremos obrigados a admitir que a nossa parte não tem sido suficiente. A crise social, política, econômica e sanitária provocada pela pandemia de Covid-19 expôs ainda mais muitas das nossas históricas fragilidades como sociedade que, “na real”, temos insistido em jogar para “debaixo do tapete”.
Por isso, a participação nas questões de interesse público no nosso País tem exigido atos mais generosos, mais compromissados, heroicos, eu diria. Algo no nível do que muitos profissionais da saúde, educação e segurança têm feito, só para citar alguns dos heróis evidenciados pelo combate à pandemia. Isso significa que essa crise social generalizada pede mais de cada um de nós, ainda que as medidas variem bastante de pessoa para pessoa. Certamente pedem mais de quem está menos vulnerável.
Penso que, ante esse quadro complicado, é preciso uma participação mais ativa no acompanhamento e na cobrança de autoridades públicas (nos diferentes níveis, isto é, federal, estadual ou municipal) sobre o papel especial que lhes cabe em administrar as demandas, as posições e os interesses diversos da sociedade, de forma mais equilibrada, mas que contemple como prioridade o atendimento aos mais vulneráveis.
Esse comportamento instável de postura, com frequência motivado exclusivamente por interesses de poder, é algo para nos envergonhar e entristecer diante das mais de 400 mil mortes num prazo de tempo tão curto, à parte a responsabilidade de muitos dos próprios cidadãos para essa performance. Por isso tudo, nunca a aplicação do conceito de cogovernança se revelou tão pertinente. Passamos da hora de relegarmos apenas à classe política a tarefa de governar. Ao levarmos adiante iniciativas de uma gestão mais participativa, temos uma nova oportunidade de fazer a diferença e colher resultados bem melhores. Para isso, como os heróis, precisamos nos sacrificar em alguma medida e, com a graça de Deus, pelo nosso testemunho, levar outros a fazer o mesmo.
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